segunda-feira, 19 de maio de 2008

A última visita foi a de Tanatos

Sou-vos sincera, benquistos visitantes: eu temia que o dia chegasse e o funesto acontecimento se desse. Já por aqui vos tinha dito que andavam de olho em mim e nas bem-intencionadas linhas que por aqui deixo. Que, inclusivamente, receava que os Deuses do Olimpo, que sabem mais do que parece, perdessem a tolerância. Pronto, aconteceu.

Bem caladinha tenho andado, como sabem, para ver se passo despercebida. Mas Tanato, essa figura com que ninguém gosta de partilhar a mesa do pequeno-almoço, apareceu-me ontem em casa depois do jantar. Como sei que raras vezes sai lá do Tártaro, não pude deixar de ficar estarrecida com a visita do Deus da Morte. Ele, ao pé de Hades, não tem grande importância, mas sempre é o Deus da Morte.

Mandaram-no, imaginem, dizer-me que estava, a partir daquele momento, despedida do cargo de Mulher-a-Dias oficial do Olimpo e de toda a mitologia grega. Que era intolerável espalhar, para quem quisesse ler, os segredos mais diversos sobre a intimidade das divindades. É isso, meus tesouros: fui posta a mexer, corrida para o olho da rua, atirada para os ímpios caminhos da vida. Não tenho muito mais a dizer-vos, a não ser que estou arreliadíssima.

Dito isto, peço-vos: a ser verdadeiro todo o apreço e todo o carinho que me ofereceram desde o primeiro dia, manifestai-vos aqui, nos comentários. Dizei tudo o que deambula pela vossa alma no momento da minha partida.

Desejo-vos, adorados leitores, santas vidas a todos.

A vossa
Iris.

domingo, 20 de abril de 2008

Obrigado, menino Pedro, pelo bocadinho que percebi

Eu não vos disse que isto de ser conhecida era coisa de apoquentar a minha alma pequenita? Vejam lá bem isto. Um moço muito querido, cujos pais baptizaram Pedro Rolo Duarte e que é afamado jornalista na Lusitânia, fala de mim no seu cantinho da internet e da rádio.

Sou sincera: os niquinhos em que ele fala de uma agência de publicidade deixaram-me um nadinha confusa, porque não sei nada dessas coisas. Mas parece que ele gosta do que eu escrevinho, porque até se dá ao trabalho, coitadinho, de copiar uns pedacitos.

Aqui fica o artigo chamado Do Olimpo à Blogosfera. Que Zeus lhe dê saúde é o que eu peço.

As ameaças de Dionísio

Meus queridos, meus queridos, eu nem sei o que vos dizer. Vocês pedem tanto de mim que eu já não sei às quantas ando. Se eu alguma vez pensei que uns pensamentos assim para o tonto de uma mulher-a-dias também assim para o tonta iam dar tanto que falar.

Vou dizer-vos uma coisa: tenho andado afastada porque ando apoquentada. Ando com medo. Quer-me cá parecer que já há aqui no Olimpo quem desconfie de que eu tenho este cantinho para a converseta. Diz que, pela primeira vez, os deuses deixaram de achar seguro levar a vida devassa que levam.

Num destes dias, batem-me à porta e dizem-me: "o meu amo, Dionísio, avisa-a para ter cuidado com o que anda para aí a fazer". Ora isto incomoda muito e faz uma pessoa pensar duas vezes antes de abrir a porta. Anda para aí uma gatunagem... O senhor Dionísio, como sabem, é o Deus do Vinho. E acumula funções: também é Deus da Fertilidade e da Vida Alegre. Ora isto, apesar de poder soar bem, é um bocadinho devasso.

Perguntei eu ao mensageiro: "Mas que fiz eu de tão grave?". E ele rematou, já preparado para arrancar a toda a mecha: "Há coisas, dona Iris, que mais vale não se saberem. E quando se mistura vinho, vida alegre e fertilidade, há coisas que não são mesmo para se saberem". Olhem, meus santinhos: pelo sim, pelo não, a ver se não deixo para aqui escapar nada sobre orgias com recordes de participação, bebedeiras à moda antiga e filhos que não sabem quem são os pais. Tenho que ter cuidado, se estão a perceber-me.

É por isso, meus amores, que vos aviso da minha decisão de ter algum tento na língua. Peço-vos paciência e compreensão, porque se esta gente continua a implicar com a Iris vou ter que procurar outras casas para limpar mais tarde ou mais cedo. E sou moça para pensar que nem eu nem os meus queridos queremos isso.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Aos meus amores

Para ser franca, quando me meti nesta coisa dos blogs, não pensei que isto fosse dar trabalho. E muito menos fama, como os meus amores devem imaginar. Não podem, por isso, estranhar que não encontre tempo para responder a todas as vossas adoráveis palavras. Eu sou, como vocês dizem, uma "cota" simples. Eu não sei ser estrela, porque essas iluminam e eu sou apenas iluminada. Perceberam? É do anúncio para que os senhores simpáticos da ZON me convidaram.

O que vos peço é que tenham paciência, que eu já não vou para nova, os olhos já não ajudam e os deuses põem-me a cabeça em água. Vou tentar agora responder a algumas das mensagens que tenho recebido dos meus queridos. Não podem ser todas, porque algumas até me deixam "sem jeito" de tão amorosas. E assim vamos poder olhar para a frente e falar de coisas novas. Ora bem:

"Mas vocemecê além de mulher-a-dias também cozinha manjares para os deuses?"
Ora essa! Então e eu deixava que esta gente morresse esfaimada? Se não for esta sua humilde criada, ninguém faz nada para pôr na mesa aqui no Olimpo. São deuses, sabe? Como eles costumam dizer, a ver se me lembro... Têm sobretudo "preocupações espirituais". Se não fosse eu, esta gente não durava mais de três séculos. Por incrível que pareça, não são dados à doçaria. É gente de contento fácil. Qualquer canja de galinha do campo lhes cai bem.

"Deve ser ignorância, mas o que é uma Bimby?"
"Também deve ser ignorância da minha parte, mas eu não sei o que é uma Bimby!"
Ai meninas. Podia eu ter idade para ser vossa mãe e eu é que vos dou notícias destas coisas modernas? A Bimby, minhas santas, é uma assistente de cozinha, um robot de cozinha, ou o que quiserem chamar-lhe dentro desse género. Diz que só não frita e não faz outra coisa qualquer, que é capaz de ser preencher os impressos do IRS. E é para poder continuar por cá, pela vida e pelo blog, que pedi uma. Se receber, depois conto aqui como é.

"Já que é tu cá tu lá com os deuses diga-me cá uma coisa: Hades era conhecido como deus do mundo dos mortos, acha que deixou descendentes em Portugal… sei lá, políticos?"
Essa agora. Eu de Portugal tenho sabido pouco. Já o senhor Hades, esse é dos piorzinhos que aí andam. Sabe o que é? Dá muito mau ambiente, é o que é. São três irmãos difíceis, o senhor Hades, o senhor Zeus e o senhor Poseidon. Se o senhor Poseidon cheira muito a peixe, imagine o senhor Hades, que anda lá em baixo da terra com gente morta. Cruz credo. Ninguém aguenta aquele fedor. Nem aquela cara de enterro, a deixar lama por tudo quanto é canto. Dá uma trabalheira, lavar aquela lama toda com um daqueles produtos perfumados (basta a medida de uma tampa) que qualquer hiper tem. Imaginem que, para nem dar azar, há muitos que nem dizem o nome dele. Falar da morte, então, nem pensar. Aqui não morre ninguém vai para uns oito séculos, acho eu. Já nem sei o que é, graças a Zeus. Mas sempre ouvi dizer aos deuses: "a morte é horrível porque nos torna inofensivos". Isso faz-me pensar que os políticos de que fala não estão mortos.

"Sou, também, uma grande apreciadora de mitologia, pelo que gostaria de lhe perguntar (que para mim não ficou muito claro) se os senhores deuses aí do Olimpo sabem do plágio que sofrem por parte dos romanos. Se sabem, já os processaram ou alguma coisa do género? E não ficam indignados de se ter usado os nomes romanos para coisas importantes como baptizar planetas?"
Oiça, meu querido: isso não tem importância. Eu não ligo muito, e parece-me que os deuses daqui também já não querem saber desse assunto. O que eles me dizem é que é gentinha. Aliás, para ser exacta, eles dizem que é "gente da contrafacção". Ignoram.

"Já agora.. quantas horas trabalha por dia?

Pagam bem ao menos?"
Não tenho um horário muito rígido e também não me queixo das condições. Pagam-nos com paz eterna.

Quase ninguém cala a Iris

Ai, meus queridos, que só tenho coisas para me ralar. Eu bem quero vir para junto de vós, minhas coisas lindas, mas ou a lida olímpica ou coisas que nem percebo teimam em meter-se no meu caminho.

Imaginem que esta manhã não consegui escrever-vos porque o Blogger (diz que é a firma que guarda estas coisas que para aqui andam) decidiu suspender estes meus afazeres literários. Mandaram-me uma carta e tudo. Até pensei “Ó Iris, das duas, uma: ou já fizeste asneira ou não fazes ideia do que está escrito na carta porque está em estrangeiro”.

Era o segundo caso e chamei, para me ajudar, a dona Atena, mais letrada do que eu. Primeiro, porque tem estudos. Depois, porque já nasceu da cabeça de Zeus, o que deve dar muito jeito na altura da transmissão de conhecimentos. Ora a dona Atena, moça muito solicitada, fez a fineza de me explicar: “Dona Iris: o seu blog foi dado como suspeito de prática de spam”. Agradeci e chamei o meu mais pequeno, que eu fiquei na mesma e ele é que sabe destas coisas.

Estou angustiada, meus queridos. Até estou com afrontamentos. Então o meu mais pequeno não me diz que eles fazem estas coisas quando alguém denuncia um blog por ele ser usado para parvoíces e até para uma ou outra ilegalidade? Então e eu lá sou dessas? Fiquei para a minha vida.

O meu mais pequeno, que parece que gosta de me ver apoquentada, ainda me disse que é comum fazerem isto aos blogs das pessoas quando se juntam inveja e estupidez. Não quero acreditar nisso, meus santinhos. Eu julgava que ninguém me queria mal. Que enxaqueca.

sexta-feira, 28 de março de 2008

A Deusa do Tempo Livre

Os meus queridos sabem que dou muita importância aos pedacinhos de tempo que aqui passo. Descontraem muito, garanto-vos. É que o serviço já vai pesando um poucochinho. Portanto, hoje pedi à senhora dona Hera, que acaba por mandar nisto tudo, um utensílio que me vai dar qualidade de vida. Pedi-lhe que comprasse uma Bimby.

Polifemo (não é nome de detergente)

Habituei-me a esta coisa de ler comentários e e-mails e isto anda a dar-me cabo do sono. O meu dia é longo, como imaginam. Chega a ter séculos, centenas de anos a limpar, esfregar, arear, lavar e secar. É por isso que dou por mim a guardar as noites para este cantinho e para os meus queridos.

Voltei, por estas décadas, a receber uma questão com alguma pertinência. Ora aqui está ela:
"Dona Iris, podia-me fazer um favor? Pergunte ao Deus do Mar, Poseidon, porque é que guardou tanto rancor para com Ulisses. Mas de mansinho, se não é capaz de experimentar na pele a sua fúria! Ulisses era bom rapaz..."
Fosse o meu nome Brízida Vaz, alcoviteira da criação de Gil Vicente, e muitas explicações podia eu inventar para essa, chamemos-lhe assim, ligeira antipatia. O que sei, porém, é o que tenho lido em revistas dadas ao mexerico e numa ou noutra conversa com a dona Ogígia, que é quem me arranja o cabelo e as mãos.

Odisseu (Ulisses é o nome que lhe inventaram os romanos, que são do contra), diz-se por aqui, depois de passar bons momentos em Tróia (não a que se avista de Setúbal, atenção), de onde saiu como herói e onde ajudou a montar aquela estratégia do cavalo, parou numa ilhota no regresso a casa. Homero, cronista dessa viagem, jura a pés juntos que se tratava da ilha dos ciclopes, moços de dimensão considerável com um único olho. No meio da testa, coitadinhos.

Parece que um desses ciclopes era Polifemo. E que Polifemo era filho de Poseidon, de que fala a questão que citei. Odisseu e o resto da rapaziada famélica, uma vez na ilha, irrompem pela caverna de Polifemo, que era dado a uma vida pacata. O ciclope, quando chegou a casa, fechou a dita com os marinheiros dentro e tratou de saber que bagunça era aquela. Logo ele, habituado a estar sozinho e a ter as coisinhas à sua maneira (como o compreendo).

Mas Polifemo, dizem as revistas mais chegadas à polémica, também não era santo. E começou, com naturalidade, a comer os embarcadiços. Dois a dois. Como imaginam os meus amores, aquilo não caiu bem a Odisseu, que tratou de embebedar o gigante de um só olho com vinho, coisa que não faltava num barco. Quando Polifemo caiu a dormir com a borracheira, os que sobravam fora do seu estômago cegaram-no com uma vara.

Ora isto não deixa um pai muito satisfeito, e foi por isso que Poseidon, pai do ciclope cego, atormentou com veemência o resto da viagem de Odisseu com marés e tempestades. Isto, meus queridos, é o que se diz, porque eu não estive lá. Como facilmente imaginam, ninguém convida uma mulher-a-dias para conquistar Tróia. O que, por acaso, é uma discriminação que me deixa um nadinha entristecida. Cala-te boca, que os mares têm ouvidos.

quarta-feira, 26 de março de 2008

A Lixívia (não é nome de deusa)

Já vos disse que os afazeres não me deixam muito tempo para agradecer os comentários e responder às perguntas que me colocam neste meu cantinho aprumado. Mas há uma pergunta que, por estar relacionada com as minhas competências, conseguiu roubar-me este niquinho. Não sei de quem vem, mas merece um beijinho e reza assim:

"ai senhora, adorei o seu reclame da televisão.
gostaria de saber se limpa o olimpo com lexívia, anti-oxidante ou limpa vidros?! obrigada".

Muito obrigada sou eu, minha querida, mas o reclame não é meu. É dos senhores simpáticos da ZON de que já aqui falei. Sobre a sua pergunta, vá: a menina (imagino que seja uma menina), hoje em dia, tem a vida muito facilitada com isso da lixívia, mas no Olimpo, querida, dá tudo muito trabalho. Aqui é à moda antiga, à moda da Grécia Antiga: passando água por uma mistura de cinzas e cal (assim ela por ela, está a ver?). E olhe, a si já lhe aparece engarrafada. Que sorte, sabe lá o que isto custa. Em relação ao anti-oxidante, não me dou bem com eles. E o limpa-vidros serve para limpar vidros, e no Olimpo não há essas modernices. Está a ver os Deuses com frio ou aborrecidos com o pó?

Os odores de Poseidon

Há, pelo Olimpo, uns deuses que dão mais trabalho do que outros. E há ns quantos que, não dando trabalho com muita frequência, quando dão é a sério, são barrigadas de dores nas articulações de tanto esfregar. O senhor Poseidon é assim, coitadinho. Não é má pessoa, mas é do piorzinho que existe para trazer aperaltado.

Poseidon, para os meus queridos mais distraídos, é o Deus dos Mares, aquele a que os romanos (gente do contra, já se sabe) chamaram Neptuno. Nem é daqueles que passa o tempo a cirandar pelo Olimpo, feito barata tonta, mas a vida que leva debaixo de água deixa-me esfrangalhada quando reaparece por cá.

Sempre que regressa ao Olimpo, não falha: "Dona Iris: limpe-me o tridente e tire-me este cheiro do corpo". O tridente é uma mania dele e sempre me disseram para não fazer perguntas. Já o cheiro, meus amores, mistura aromas de bacalhau, sardinhas e camarão. A dona Anfitrite, sua mulher e musa das águas, não se importa muito, até está habituada. O problema é quando ele vem ver as outras, as ilegítimas, que não são muito dadas ao odor marinho.

A minha grande preocupação em relação ao tridente é a ferrugem a que se sujeita nos rios e nos mares. Há muitas mulheres-a-dias que não passam sem massa de polir e o braço de um homem forte e musculado. Não tendo nada contra os músculos, prefiro utilizar uma técnica alternativa: mergulhar o tridente em cola (o refrigerante, não a goma) durante seis horas, lavar e secar. Quando o senhor Poseidon não tem seis horas para esperar, então volto à massa de polir.

Já sobre os odores diversos, tenha a minha querida leitora água morna à mão sempre que o seu homem for à pesca. Depois é conforme o bicho com que ele lidar. Quando o culpado for o bacalhau, gotas de vinagre ou de limão antes do contacto com a água. Em relação às sardinhas, é esfregar com vinho tinto antes de lavar com água. Já no caso do camarão, misture água morna com sumo de um limão e esfregue onde é preciso.

Memórias do futebol grego

Por muito que eu veja os canais que a minha televisão dedica ao desporto, meus queridos, o futebol não é coisa em que eu seja muito letrada. Clube não tenho, mas sou moça para espreitar jogos em que participam as selecções de Portugal e da Grécia. Como o de hoje, que é só para a folgança mas que, li num site, tem sabor a desforra.

Não sei se vou ver o jogo, meus amores, porque torcer contra a equipa do país que me dá trabalho é coisa que sei que me apoquenta. Apesar de ser portuguesa de barba rija, ou dos setes costados, já não me lembro. Mas, a propósito, lembrei-me de partilhar convosco as imagens do único jogo a que assisti ao vivo na vida.

Foi nos Jogos Olímpicos de 1972, em Munique, na Alemanha, e eu estava na comitiva que acompanhou a selecção grega de futebol. Fui como auxiliar de limpeza de balneários, a convite da minha amiga Selene, na altura massagista dos futebolistas. A selecção incluía executantes de alto nível, como Sócrates, Platão e Aristóteles. Nesse dia consegui ir ao estádio. Ganhámos (dessa vez fui grega, como compreendem) 1-0, com um golo de cabeça do senhor Sócrates aos 89 minutos. (A propósito do senhor Sócrates, uma fofoca: nunca vi ninguém perder tanto pelo no banho).

Para minha e vossa felicidade, encontrei imagens do jogo na internet. Aqui estão.

terça-feira, 25 de março de 2008

A mania das arumações

Já vos disse, meus queridos, que sujidade e desarrumação são coisas que me causam muita moléstia. E a internet, assunto em que actualmente sou versada, tem muito material fora do sítio. Ora vejam: foi este mês criado um blog com parecenças óbvias com este meu modesto, honesto e aprumado cantinho. O que me causa maleitas várias é o facto de ter, aparentemente, sido criado para coisa nenhuma, uma vez que nada foi lá escrito até à data. Diz o meu mais novo, que tem estudos e sabe destas coisas, que há pessoas que se dedicam a estas actividades para prejudicar as intenções dos outros. No caso, as minhas. Ora isto causa muita confusão. E eu não me entendo na confusão.

Hera, a boa velhaca

Não é coisa fácil ser-se iluminado, como me chamam os simpatiquíssimos senhores da ZON no reclame que passa na televisão. Quer dizer, não me queixo de ver a internet passar à frente destes que a terra há-de comer a uma velocidade que dá afrontamentos, mas há o problema do telefone sem assinatura.

Quer dizer, o problema não está no facto de não pagar assinatura de telefone. O que realmente me molesta é a dona Hera, deusa muito bem relacionada e muito chegada às elites. Também fala pela ZON por tuta e meia e isso, como percebereis, é muito desagradável. Desgasta muito o sossego de uma pessoa.

A dona Hera, coitadita, não é de ter muitas amizades. Daí que, quando se sente próxima de alguém com bons fundos - como é o meu caso -, deixa jorrar, à laia de confessionário, as suas histórias recambolescas, aquelas que lhe dão fama de ciumenta, agressiva e odiosa. E eu, que tenho muito respeitinho pelos poderes desta gente divina, não só faço questão de lavar-lhe toda a casa com produtos de odor floral como não recuso ouvir-lhe os desabafos. Que nos últimos tempos são de horas, através do telefone. Ora isto maça um niquinho e chaga a causar alguma dormência.

Agora, meus amores, o que queria mesmo era pedir-vos um favor. A dona Hera, mulher legítima do senhor Zeus, sofre muito com as amantes do malvado e com a catrefada de filhos que daí resultam. Mas o que ela não suporta realmente é comparar-se à dona Afrodite, aquele exemplar vagamente libertino de que já vos falei. Eu tenho que ser justa: não têm comparação e o julgamento cai com facilidade para o lado da dona Afrodite. Que, tendo já conhecido dias de maior esplendor, não está exactamente transformada num fóssil.

O favor, então. A dona Hera é malvada, já vos disse. Tem inclusivamente o hábito de atazanar a vida de quem se cruza com ela, mas eu acredito que alguém que é conhecida como a Deusa do Casamento tem para lá uma luz de bonomia a implorar uma brecha para brilhar. Talvez seja a própria dona Hera uma iluminada. Quanto ao favor, é coisa simples: quando a virem, falem com ela; alimentem-lhe o espírito, mesmo que o corpo não ajude; digam-lhe como é bela a sua existência. Porque, sinceramente, eu já não aguento as horas ao telefone a ouvi-la.

Obrigada, meus queridos

Coitadinhos dos meus amores, que têm toda a razão de se zangarem comigo. Estes dias não têm sido fáceis, parece que a sujidade e a desarrumação no Olimpo nascem de geração espontânea. Nem nos três dias santos que passaram os deuses sossegaram, benza-os Zeus.

Mas hoje não resisti a vir aqui abrir o meu coração. Para vos agradecer, meus queridos. Para vos agradecer os comentários, os e-mails, os pedidos de intercâmbio de links, a simpatia, a educação, o respeito e o gabarito das vossas mensagens. Acreditem que, se me fosse fisicamente possível, os abraçava a todos e ainda dava uma varridela nas vossas salas-de-estar.

Compreendam é que eu não estou habituada a ser figura pública. Nem sei viver com isto. Para verem como sou reservada, se não fosse o meu mais pequeno a insistir eu nem a minha fotografia aqui punha. Tenho vergonha. Além disso, estou despenteada e isso, como sabem, causa uma má primeira impressão. O que vale é que vocês, como são uns queridos, não se importam. Só não me sinto muito à vontade é com um senhor que passa o dia escondido atrás dos carros na minha rua, com uma máquina fotográfica apontada à minha janela. Pelo menos, parece estar apontada à minha janela.

Antes de voltar para a lida olímpica, peço-vos que não me levem a mal por não responder a todos os vossos comentários, e-mails e propostas de negócio que não entendo. Tenham paciência e eu vou dando notícias.

A vossa
Iris.

P.S.: Aos senhores gentis que todos os dias me enviam e-mails com propostas para eu aumentar o tamanho do... coiso: não será engano?

sábado, 22 de março de 2008

Os achaques da dona Deméter

Eu, que já cá ando há uns séculos, aprendi há umas décadas que as coisas não acontecem por acaso. E, por acaso, já estava eu preparada para uma Páscoa quentinha e sossegada quando dei por mim de plantão à cabeceira de uma destas deusas meio tontinhas que eu conheço. A coisinha boa foi estar abrigada da chuva.

Meus queridos: não há um único dos milhões de canais que apanho no meu LCD (está quase pago e sem juros, que eu não sou como algumas) que não fale de alterações climáticas. O que eu nunca oiço, e por isso aqui me sento enquanto a outra dorme à conta dos comprimidos, é alguém explicar com palavras que se entendam a principal razão para que chova e faça um frio de cortar na Primavera: os achaques da dona Deméter.

Sabem os meus queridos que ela tem pendurado no seu escritório um diploma que diz "Deusa da terra cultivada, das colheitas e das estações do ano"? Não sabem, mas não vos censuro, com tanta coisinha que têm para fazer. Mas tem. Diz que tem mesmo poderes. O problema é que tem o sistema nervoso um nadinha escangalhado, coitadinha, e de quando em vez cai na cama por tempo incerto. É que nem o aspirador industrial a acorda.

Isto já vem de longe, meus queridos, do tempo em que o senhor Hades lhe raptou a filha Perséfone. Nesse dia, abalou do Olimpo, sem comer e sem dormir, e andou sabe-se lá por onde. E nós sabemos a malandragem que anda fora do Olimpo. Enquanto andou fora, a terra secou, os animais morreram, parou tudo. E, sem comida, foi ver a fome e as doenças a espalharem-se ao desbarato. O senhor Zeus, mesmo não sendo nenhum santo, lá meteu uma cunha e a mocita apareceu. A dona Deméter, coitadita, é que nunca mais jogou com o baralho todo. De tal modo que às tantas já era, ao mesmo tempo, irmã e mulher do senhor Zeus. Ora isto desaustina uma pessoa.

Percebem agora porque anda o tempo todo desarranjado? Agasalhem-se, meus amores. Pelo aspecto da coisa, parece-me que vai haver mais uns dias de chuva.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Porca, porca é a Afrodite

Uma pessoa que tem a mania das limpezas sujeita-se. Eu, meus queridos, não descanso enquanto não limpar o pó a todos os cantinhos da internet. É que há pessoas que sujam muito, que dão muito mau ambiente aos computadores.

Mas tenho que dizer-vos que, tirando um ou outro site que salta aqui no meu ecrã, nunca vi nada como a vida da dona Afrodite. Eu nem sou muito dada à calhandrice, mas há coisas que me complicam com os nervos. A injustiça, por exemplo. E andarem por aí a dizer que a dona Afrodite é a Deusa da Beleza e do Amor é dessas coisas que me esfrangalham o sistema. Amor, vejam bem. Já lhe ouvi chamar tantas coisas...

Para já, quem nasceu como ela nasceu não pode sair coisa boa. O senhor Cronos pega nas pendurezas do seu pai, o senhor Urano, e atira-as ao mar. As ditas começam a ferver e a espumar e pumba!, fazem uma filha à dona Tálassa, Deusa do Mar. Ora isto, que começa logo por fazer uma grande porcaria que alguém tem que limpar, não pode dar estabilidade à cabecinha de um bébé. Assim começou a vida da dona Afrodite.

Comecei a fazer umas horas por semana em sua casa quando se casou com o senhor Hefesto. Aquilo descambou logo, até porque já vinha bem embalado. Diz que o homem não lhe dava muita atenção, muita assistência. Eu poucas vezes o via por casa, é certo, mas nunca achei bem o que ela lhe fez, pobrezinho. As festas, meu Zeus, aquelas festas... Imaginam vocês a bagunça que faziam numas festas que chamavam de afrodisíacas? Não imaginam porque a Iris lá ia limpar tudo a seguir. O vinho, os brinquedos esquisitos, as sandálias desirmanadas.

Agora imaginem quando os filhos começaram a nascer. Até babysitting fiz nessas festas, vejam lá a minha vida, que os meninos Eros (que também deu nome a coisas bonitas, deu...), Antero, Fobos, Deimos, Harmonia, Himeneu, Priapo (coitadinho, que até deu nome a uma doença), Enéias e mais uns quantos que iam aparecendo dormiam muito mal. Mas o pior era o Hermafrodito, que ninguém me convence que não nasceu "diferente" por causa lá daquelas bagunças e daqueles amantes todos.

A menina Afrodite até era bem jeitosa, nos seus melhores dias. A pele branquinha, muito asseadinha, como se pode ver nuns quadros que andam por aí. Agora é que está mais acabadita, pobrezinha, mas quando lhe dá para o disparate é a rainha da Casa de Repouso. E eu, que nunca digo não a umas horas extraordinárias, também lá vou uma vez por semana. Como é ao sábado de manhã, imaginam lá vocês os restos das façanhas da véspera. Suja tanto, a dona Afrodite.

quinta-feira, 20 de março de 2008

A Lena a meter água

Ai, meus queridos, que estou que não posso. Estou tão arreliada que dou graças a Zeus por poder desabafar convosco.

Agora há aí uns blogs de pessoas que pegam em discos do meu tempo, daqueles de vinil, e os põem na internet para a gente ouvir. Num desses blogs encontrei um álbum da Lena d’Água, aquela moça que era dos Salada de Frutas e irmã daquele que era jogador da bola, chamado Lusitânia.

E, meus queridos, não resisti a ouvir mais uma vez uma cantiga que adoro desde que tocou pela primeira vez no aparelho a preto e branco do café do senhor Tobias, lá no bairro: “Olimpo”. Vocês sabem como eu adoro o Olimpo, mesmo sujinho e desarrumado.

Voltando à canção, já nem me lembrava que sabia a letra de cor. “Sentado no trono dorme Zeus” – comecei eu – “com um olho aberto a ver os céus”. O pior foi depois, quando recordei aquela vozinha viçosa a cantar coisas destas: “Ri Saturno para os seus anéis, convencido que é o rei dos reis”, “Vénus arrebata os corações, que se perdem no mar das paixões” e “Baco bebe até não poder mais, desse néctar que os torna imortais”.

Até é bonita, a letra, mas há uma coisa que me está a apoquentar, meus amores. É que lá no Olimpo, onde eu faço as minhas limpezas, nem Saturno, nem Vénus, nem Baco alguma vez foram vistos. Porque o Olimpo, menina Lena, é da mitologia grega. E esses três são da mitologia romana. (Quer dizer, eles foram vistos, mas pelo Camões, n'Os Lusíadas, e nós sabemos que o Camões não via grande coisa. Ora isto engana muito.)

E se eu já estou aperreada, nem sei como se sentirão o senhor Cronos, a dona Afrodite e o senhor Dionísio quando lhes mostrar a canção. Se calhar nem mostro, que não gosto de ver deuses zangados. É temporal pela certa.

Zeus é um desleixado

Quem o vê no Louvre, de mármore e sem os bracinhos, coitadinho, não imagina o trabalho que dá. Tinham que vê-lo a passear-se pelo Olimpo. Parece que é tudo dele. E como o convenceram de que põe e dispõe do Céu e da Terra como lhe apetecer, suja muito, não quer saber do ambiente.

O senhor Zeus nunca foi muito arrumadinho das ideias. Lembro-me de a minha mãe – a Electra, para quem não a conhece – contar-me desde miúda uma história que mostra bem como ele é desequilibrado. Para tirar o pai, o senhor Cronos, do trono dos deuses, imaginem que lhe deu uma bebida que o fez vomitar os filhos que tinha devorado. Ora isto suja muito. Se fosse comigo não sei o que fazia, mas a dona Olímpia, que Zeus a tenha, deixou tudo num brinco.

O que me mais me chateia é quando o senhor Zeus resolve dar jantares em casa e chamar a família toda. Só mulheres, coitadinhas, são a dona Hera, a dona Hebe e a dona Métis. E ainda há as que as revistas inventam, para não falar da própria irmã, a dona Deméter, uma santa. E os filhos, diabo dos miúdos, que nunca mais acabam. Põem-me a cabeça em água. Desarrumam, sujam tudo, um inferno. Fossem todos como a menina Ártemis, tão boazinha que lhe chamam a Deusa da Castidade. Vocês sabem lá a minha vida.

Desculpem, meus queridos, mas tenho que ir andando. O senhor Zeus lembrou-se de reunir as divindades do Olimpo daqui a nada e ainda nem os biscoitinhos acabei de cozer. Estes dias de vento, aqui no Olimpo, são uma chatice, que o fogo não se aguenta um minuto. E só de pensar no que vou ter que limpar no fim… Aquelas barbas, aqueles cabelos enormes… Uma porcaria.