domingo, 20 de abril de 2008

As ameaças de Dionísio

Meus queridos, meus queridos, eu nem sei o que vos dizer. Vocês pedem tanto de mim que eu já não sei às quantas ando. Se eu alguma vez pensei que uns pensamentos assim para o tonto de uma mulher-a-dias também assim para o tonta iam dar tanto que falar.

Vou dizer-vos uma coisa: tenho andado afastada porque ando apoquentada. Ando com medo. Quer-me cá parecer que já há aqui no Olimpo quem desconfie de que eu tenho este cantinho para a converseta. Diz que, pela primeira vez, os deuses deixaram de achar seguro levar a vida devassa que levam.

Num destes dias, batem-me à porta e dizem-me: "o meu amo, Dionísio, avisa-a para ter cuidado com o que anda para aí a fazer". Ora isto incomoda muito e faz uma pessoa pensar duas vezes antes de abrir a porta. Anda para aí uma gatunagem... O senhor Dionísio, como sabem, é o Deus do Vinho. E acumula funções: também é Deus da Fertilidade e da Vida Alegre. Ora isto, apesar de poder soar bem, é um bocadinho devasso.

Perguntei eu ao mensageiro: "Mas que fiz eu de tão grave?". E ele rematou, já preparado para arrancar a toda a mecha: "Há coisas, dona Iris, que mais vale não se saberem. E quando se mistura vinho, vida alegre e fertilidade, há coisas que não são mesmo para se saberem". Olhem, meus santinhos: pelo sim, pelo não, a ver se não deixo para aqui escapar nada sobre orgias com recordes de participação, bebedeiras à moda antiga e filhos que não sabem quem são os pais. Tenho que ter cuidado, se estão a perceber-me.

É por isso, meus amores, que vos aviso da minha decisão de ter algum tento na língua. Peço-vos paciência e compreensão, porque se esta gente continua a implicar com a Iris vou ter que procurar outras casas para limpar mais tarde ou mais cedo. E sou moça para pensar que nem eu nem os meus queridos queremos isso.

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